1 - Racismo científico
Dentro do tema ‘Ética na Ciência’, o grupo escolheu para análise ética o período histórico e ideológico que corresponde ao Branqueamento da população brasileira do fim do sec. XIX ao inicio do sec. XX, pois essa política, por assim dizer, teve despontamentos até os dias atuais desencadeando várias formas de preconceito e discriminação explícitas e implícitas. Neste período, teóricos europeus como o francês Gobineau, que à propósito viveu no país por algum tempo, influenciaram o fortalecimento desse pensamento hegemônico no Brasil.
Além do mais, a ideia de divisão e hierarquização dos humanos é posta na questão; seria ético dividir o ser humano em raças? Ou etnia já explica tais diferenças de uma forma melhor? Essa divisão em raças favoreceu algum grupo? E ela se sustenta enquanto ciência? Se sim, essa ciência deve ser encarada como neutra? Quais implicações éticas podem ser retiradas sobre essa construção do conhecimento e suas repercussões?
Além do mais, a ideia de divisão e hierarquização dos humanos é posta na questão; seria ético dividir o ser humano em raças? Ou etnia já explica tais diferenças de uma forma melhor? Essa divisão em raças favoreceu algum grupo? E ela se sustenta enquanto ciência? Se sim, essa ciência deve ser encarada como neutra? Quais implicações éticas podem ser retiradas sobre essa construção do conhecimento e suas repercussões?
2 - Panorama geral
Quando o europeu chegou em outras terras e observou que havia semelhantes a eles, mas não iguais em físico e cultura, organizados em estruturas sociais variáveis e crenças diversas, não os identificaram como seres humanos de imediato, e começaram as discussões sobre aqueles seres possuírem alma.
A escravidão foi "justificada" pela igreja católica com essa base, quase como se a escravidão fosse um castigo para os povos pagãos, o que incluía qualquer povo que não fosse cristão. Havendo diferenças, como foi o caso dos índios na América Hispânica que foram considerados seres "pré-pecado", devido a sua organização social e agrícola, portanto, as relações estabelecidas entre os indígenas e os colonizadores ali, foram diferentes das estabelecidas no Brasil, onde a mão-de-obra indígena foi usada desde o início, tendo a captura do índio.
Podemos notar que havia creanças que justificavam a dominação de um grupo sobre outro, mas elas não possuiam cunho científico, eram basicamente religiosas: o racismo científico se inicia a partir do século XIX para justificar a dominação de povos e teve forte influencia na política de branqueamento do Brasil, baseada principalmente na teoria de Gobineau.
Além disso, nos séculos XVIII e XIX, para se tornarem Estados Soberanos, as nações tinham que 'provar' isso às outras nações e ao seu próprio povo, ou seja, ser soberana 'fora' de seu território e 'dentro' deste. O sentimento de nacionalidade predominava nas nações europeias e o desejo de expandir seus mercados e dominar mercados era a essência do poder de um Estado.
“A questão em torno do caráter biológico do Homem constituiu um arcabouço teórico sobre “degeneração”, “raça” e gênero formulado na Europa e recepcionado internacionalmente. Estas ideias influenciaram debates sobre povo, nação e cultura e foram significativas para as identidades nacionais, fazendo com que os cientistas tivessem um papel muito importante nesses debates sobre questões nacionais. A ideia de “raças” distintas implicou, para a maioria dos cientistas, numa hierarquia entre elas, a qual definir a “raça branca” como superior” (Stella Lorenz, sd)
Sem a criação de um princípio de divisão, não haveria maneira para se justificar a dominação. Assim como, sem embasamento científico suficiente, essa ideologia não teria sido tão facilmente difundida no mundo.
A escravidão foi "justificada" pela igreja católica com essa base, quase como se a escravidão fosse um castigo para os povos pagãos, o que incluía qualquer povo que não fosse cristão. Havendo diferenças, como foi o caso dos índios na América Hispânica que foram considerados seres "pré-pecado", devido a sua organização social e agrícola, portanto, as relações estabelecidas entre os indígenas e os colonizadores ali, foram diferentes das estabelecidas no Brasil, onde a mão-de-obra indígena foi usada desde o início, tendo a captura do índio.
Podemos notar que havia creanças que justificavam a dominação de um grupo sobre outro, mas elas não possuiam cunho científico, eram basicamente religiosas: o racismo científico se inicia a partir do século XIX para justificar a dominação de povos e teve forte influencia na política de branqueamento do Brasil, baseada principalmente na teoria de Gobineau.
Além disso, nos séculos XVIII e XIX, para se tornarem Estados Soberanos, as nações tinham que 'provar' isso às outras nações e ao seu próprio povo, ou seja, ser soberana 'fora' de seu território e 'dentro' deste. O sentimento de nacionalidade predominava nas nações europeias e o desejo de expandir seus mercados e dominar mercados era a essência do poder de um Estado.
“A questão em torno do caráter biológico do Homem constituiu um arcabouço teórico sobre “degeneração”, “raça” e gênero formulado na Europa e recepcionado internacionalmente. Estas ideias influenciaram debates sobre povo, nação e cultura e foram significativas para as identidades nacionais, fazendo com que os cientistas tivessem um papel muito importante nesses debates sobre questões nacionais. A ideia de “raças” distintas implicou, para a maioria dos cientistas, numa hierarquia entre elas, a qual definir a “raça branca” como superior” (Stella Lorenz, sd)
Sem a criação de um princípio de divisão, não haveria maneira para se justificar a dominação. Assim como, sem embasamento científico suficiente, essa ideologia não teria sido tão facilmente difundida no mundo.
3- A DIVISÃO DE RAÇAS
3.1 - François Bernier [ séc. XVII]
Bernier viajou por regiões da Ásia, África e Europa. Esse contato com novas culturas, o levou a escrever sobre as diferenças físicas dos povos, também diferenciando seus comportamentos, pois estes curiosamente se alteravam conforme o lugar.
“... a primeira espécie ou raça compreendia os povos que compunham a França, Espanha, Inglaterra, Dinamarca, Suécia, a Alemanha ou, de uma forma geral, a Europa, salvo uma parte da região da atual Rússia que ele designa como “Moscovi”. Além dessa enorme região, também se agregava à primeira raça de homens uma pequena parte da África, como Marrocos, Argélia, Tunísia e Trípoli, as regiões próximas ao rio Nilo, da mesma forma que algumas regiões da Ásia como os estados mongóis. Entendia que, apesar dos egípcios e indianos serem um pouco mais escuros que os europeus, também deveriam ser alocados no primeiro grupo.” [Silva, s.d]
Segundo Bernier, a pigmentação não era consequência dos climas, ou seja, mudando um casal de brancos para um clima muito quente não haveria diferenças na cor de seus descendentes – apenas bronzeado. A diferença estava no sêmen e sangue da raça, sendo passada para seus descendentes. Só haveria mudança nas características físicas, caso houvesse miscigenação.
Interessante é o fato de que Bernier analisa os outros povos, tendo como povo de comparação os europeus, dos quais fazia parte e conhecia a cultura. Comparando a organização das instituições e hábitos dos grupos. É como o descobridor do filme da Disney, Pocahontas, onde seu modo de vida é encarado por ele próprio como civilizado e modelo para os indígenas do Novo Mundo.
“... a primeira espécie ou raça compreendia os povos que compunham a França, Espanha, Inglaterra, Dinamarca, Suécia, a Alemanha ou, de uma forma geral, a Europa, salvo uma parte da região da atual Rússia que ele designa como “Moscovi”. Além dessa enorme região, também se agregava à primeira raça de homens uma pequena parte da África, como Marrocos, Argélia, Tunísia e Trípoli, as regiões próximas ao rio Nilo, da mesma forma que algumas regiões da Ásia como os estados mongóis. Entendia que, apesar dos egípcios e indianos serem um pouco mais escuros que os europeus, também deveriam ser alocados no primeiro grupo.” [Silva, s.d]
Segundo Bernier, a pigmentação não era consequência dos climas, ou seja, mudando um casal de brancos para um clima muito quente não haveria diferenças na cor de seus descendentes – apenas bronzeado. A diferença estava no sêmen e sangue da raça, sendo passada para seus descendentes. Só haveria mudança nas características físicas, caso houvesse miscigenação.
Interessante é o fato de que Bernier analisa os outros povos, tendo como povo de comparação os europeus, dos quais fazia parte e conhecia a cultura. Comparando a organização das instituições e hábitos dos grupos. É como o descobridor do filme da Disney, Pocahontas, onde seu modo de vida é encarado por ele próprio como civilizado e modelo para os indígenas do Novo Mundo.
3.2 - Carlos Lineu, século XVIII
O famoso criador da taxonomia, nomeação das espécies e também das classes, que podem aqui ser chamadas de raças. Conforme sua classificação:
• Homo sapiens europaeus: Branco, sério, forte, engenhoso, inventivo, governado pelas leis;
• Homo sapiens asiaticus: Amarelo, melancólico, avaro, governado pela opinião e pelos preconceitos;
• Homo sapiens afer: Negro, impassível, preguiçoso, governado pela vontade de seus chefes;
• Homo sapiens americanus: Vermelho, mal-humorado, violento, amante da liberdade, governado pelo hábito;
Tal classificação baseava-se numa escala de valores que sugere a hierarquização entre as raças. Nela, a raça classifica holisticamente a pessoa, relacionando à cor da pele e pequenas diferenças físicas as características culturais, físicas e psicológicas. Dessa forma, esta perspectiva se mostra uma forma tipológica e essencialista de definição taxonômica.
• Homo sapiens europaeus: Branco, sério, forte, engenhoso, inventivo, governado pelas leis;
• Homo sapiens asiaticus: Amarelo, melancólico, avaro, governado pela opinião e pelos preconceitos;
• Homo sapiens afer: Negro, impassível, preguiçoso, governado pela vontade de seus chefes;
• Homo sapiens americanus: Vermelho, mal-humorado, violento, amante da liberdade, governado pelo hábito;
Tal classificação baseava-se numa escala de valores que sugere a hierarquização entre as raças. Nela, a raça classifica holisticamente a pessoa, relacionando à cor da pele e pequenas diferenças físicas as características culturais, físicas e psicológicas. Dessa forma, esta perspectiva se mostra uma forma tipológica e essencialista de definição taxonômica.
3.3 - Darwinismo Social, século XIX
Durante o século XIX a ciência desenvolveu-se significativamente e, nesse contexto, muitos cientistas elaboravam teorias em busca do progresso cientifico. No ano de 1859, Charles Darwin elaborou sua teoria sobre a evolução e a diversidade. Em seu livro intitulado “A origem das espécies”, sua teoria explica a diversidade das espécies por meio da seleção natural e de uma evolução gradativa baseada sobrevivência do mais apto, esse deixava o maior número de descendentes e suas características tornavam-se predominantes na espécie, garantindo assim sua sobrevivência e maior aptidão para viver naquele ambiente.
O darwinismo social é baseado em pré-conceitos, havia a ideia de que algumas sociedades e culturas eram inferiores que outras e apenas os mais “aptos” deveriam sobreviver. Essa teoria influenciou fortemente a colonização da África esquematizada no Congresso de Viena em 1815, evento que marca o imperialismo das grandes potencias daquele período. Outro exemplo é o Holocausto nazista, também o branqueamento populacional brasileiro, o qual é abordado neste trabalho.
Todos estes acontecimentos trazem consequências até os dias de hoje, dentre essas consequências, ainda há algumas que são aplaudidas no meio científico por ter proporcionado avanço tecnológico e científico.
Assim como houve influência do Evolucionismo sobre as ciências sociais, e em prol de um determinado grupo (brancos), que foi colocado como superior, o que justificaria a dominação, houve influência de outras áreas da biologia nas ciências sociais, a própria sociedade era vista como um grande organismo vivo, por exemplo, a microbiologia levou ao higienismo.
Os eugenistas, ligados ao darwinismo social, acreditavam que a mistura de raças levaria a uma degeneração da espécie humana.
“O progresso ganhou uma dimensão racial porque a leitura realizada com base nas teses do racismo indicava a impossibilidade de um país miscigenado evoluir economicamente. Desta maneira estabeleceu-se uma íntima relação entre progresso e uma ideia de nação ‘mais branca’ em seus traços fenotípicos e culturais. Uma sociedade mais branca seria fundamental para o desenvolvimento econômico e cultural” (Antonio Carlos Lopes Petean, 2013)
Apesar de se basearem na observação, comparando humanos com outros animais e dizendo que se selecionamos raças de animais para obter características melhores é esperado que o mesmo valha para a mistura de “raças humanas”, ela não se sustenta com base no empirismo, mesmo sendo considerada a época uma teoria científica, porque não é possível comprovar que uma sociedade miscigenada é menos desenvolvida econômica e culturalmente por conta dessa miscigenação. Mesmo assim, essa crença na superioridade de uma raça sobre a outra, e da degeneração a partir da mistura de raças levou o Brasil a prática de uma política de branqueamento.
Ou seja, a ciência, ou melhor, através das ciências naturais e sociais um grupo (homens e brancos e europeus) disse “Homem branco é homem e, homem preto é animal”; instituições cristãs, ligadas a igreja católica ou inseridas nela, buscaram entender, ou fundamentar, o porquê de o homem preto não ser considerado humano, ou menos humano do que homem branco – mas como? – Simples: "vivem como animais, e animais não são homens"; "Não possuem a nossa língua, falam em urros e sons guturais"; "seus crânios possuem medida próxima ao crânio dos primatas".
Por que não pode ser apenas diferente?
O darwinismo social é baseado em pré-conceitos, havia a ideia de que algumas sociedades e culturas eram inferiores que outras e apenas os mais “aptos” deveriam sobreviver. Essa teoria influenciou fortemente a colonização da África esquematizada no Congresso de Viena em 1815, evento que marca o imperialismo das grandes potencias daquele período. Outro exemplo é o Holocausto nazista, também o branqueamento populacional brasileiro, o qual é abordado neste trabalho.
Todos estes acontecimentos trazem consequências até os dias de hoje, dentre essas consequências, ainda há algumas que são aplaudidas no meio científico por ter proporcionado avanço tecnológico e científico.
Assim como houve influência do Evolucionismo sobre as ciências sociais, e em prol de um determinado grupo (brancos), que foi colocado como superior, o que justificaria a dominação, houve influência de outras áreas da biologia nas ciências sociais, a própria sociedade era vista como um grande organismo vivo, por exemplo, a microbiologia levou ao higienismo.
Os eugenistas, ligados ao darwinismo social, acreditavam que a mistura de raças levaria a uma degeneração da espécie humana.
“O progresso ganhou uma dimensão racial porque a leitura realizada com base nas teses do racismo indicava a impossibilidade de um país miscigenado evoluir economicamente. Desta maneira estabeleceu-se uma íntima relação entre progresso e uma ideia de nação ‘mais branca’ em seus traços fenotípicos e culturais. Uma sociedade mais branca seria fundamental para o desenvolvimento econômico e cultural” (Antonio Carlos Lopes Petean, 2013)
Apesar de se basearem na observação, comparando humanos com outros animais e dizendo que se selecionamos raças de animais para obter características melhores é esperado que o mesmo valha para a mistura de “raças humanas”, ela não se sustenta com base no empirismo, mesmo sendo considerada a época uma teoria científica, porque não é possível comprovar que uma sociedade miscigenada é menos desenvolvida econômica e culturalmente por conta dessa miscigenação. Mesmo assim, essa crença na superioridade de uma raça sobre a outra, e da degeneração a partir da mistura de raças levou o Brasil a prática de uma política de branqueamento.
Ou seja, a ciência, ou melhor, através das ciências naturais e sociais um grupo (homens e brancos e europeus) disse “Homem branco é homem e, homem preto é animal”; instituições cristãs, ligadas a igreja católica ou inseridas nela, buscaram entender, ou fundamentar, o porquê de o homem preto não ser considerado humano, ou menos humano do que homem branco – mas como? – Simples: "vivem como animais, e animais não são homens"; "Não possuem a nossa língua, falam em urros e sons guturais"; "seus crânios possuem medida próxima ao crânio dos primatas".
Por que não pode ser apenas diferente?
3.4 - Arthur de Gobineau, século XIX
Em seu livro ‘The inequality of the human races’ justificou a superioridade de uma ‘raça’ sobre a outra, assim como primeiramente as dividiu. O teórico inicia o capítulo XI de seu livro refutando a teoria de cunho darwiniano, sobre o homens terem surgido de um ancestral em comum e estarem em constante evolução nas adequadas condições.
Para explicar sua teoria Gobineau usa a religião:
“We must, of course, acknowledge that Adam is the ancestor of the white race. The scriptures are evidently meant to be so understood, for the generations deriving from him are certainly white. This being admitted, there is nothing to show that, in the view of the first compilers of the Adamite genealogies, those outside the white race were counted as part of the species at all.”
Segundo Gobineau, a qualidade das ações humanas era determinada pela raça e, por conta disto a miscigenação gera a degeneração. Após o término da escravidão no Brasil, o embranquecimento da população foi considerado por intelectuais e autoridades, entre eles, Gobineau, como a solução para diminuir a quantidade de negros da população.
Parece que a raça humana é apenas a branca, considerada pelo divino. Para justificar a separação da espécie humana em raças, Gobineau cita o exemplo das raças de cães, que só são tão diversificadas devido aos vários cruzamentos e que se esses não tivessem acontecido, as características iniciais seriam preservadas. O autor diz ainda que, considera as diferenças adquiridas com o tempo e devido às condições, acredita que estas condições aprofundaram características, porém ressalta que há ‘divergências vitais’:
“... but they do not seem to have been important enough to be able to explain fully the many vital divergences that exist.”
As diferenças e semelhanças entre os povos em áreas diferentes mostram, Segundo Gobineau, que algo ‘dentro’ da raça não se alterou, que se manteve durante vários séculos, e é por isso que alguns povos ainda mantém as mesmas características físicas dos seus ancestrais, ex: egípcios. Segundo ele, o caracter geral da raça não muda.
“The change of place would have been followed by a corresponding change of form.”
Após isso, o autor começa o capítulo 12 com uma pergunta: como poderia o homem, cuja origem comum implica em um único “ponto de partida”, foram expostos a tanta diversidade sem razão? (tradução livre) A partir daí, o autor começa sua dissertação sobre qual raça é mais bonita, ou forte, etc. Então ele começa a descrever os lugares de onde podem ter se originado a raça branca, a negra e a amarela, e também a tentar usar referências de diversas ordens para isso – científicas, cujas fontes ele não cita, e bíblicas. Além disso, comenta sobre as dificuldades geográficas encontradas, como montanhas, rios, etc. A partir disso, ele começa a descrever os dois tipos de migração: voluntária e inesperada. E diz a seguinte citação, associando-a à migração:
“The weaker man is, the more is he the sport of inorganic forces. The less experience he has, the more slavishly does he respond to accidents which he can neither foresee nor avoid.”
Gobineau associa a migrações para locais com diferentes condições geográficas as diferenças entre as raças. Raças essas que ele definiria como naturalmente divididas em apenas três: brancos, pretos e amarelos. Os brancos seriam, em geral, os europeus; os pretos, os africanos; e os amarelos, os asiáticos do parte mais oriental da Ásia. O que os diferenciou foram fatores especiais. Além disso, tanto a raça branca quanto a amarela não seriam cem por cento puras de acordo com o autor. As outras raças seriam “tipos terciários” de acordo com o autor, e ele dá exemplos. Ele afirma que os polinésios, por exemplo, são uma mistura dos pretos com os amarelos. Também afirma que quanto mais mistura de raças, mais diferenças físicas entre o povo. E também afirma que isso dificulta a identificação do indivíduo, deixando ele sem saber a que raça pertence. Além disso, também há os “tipos quartenários”, que, quando misturados a mais uma raça, o autor alega haver uma desarmonia na população, gerando uma “anarquia racial”. É possível observar que o autor, neste trecho, não apresenta nenhum embasamento teórico ou experimental, não deixando clara a metodologia utilizada; indica apenas algumas observações que são refutáveis. Depois, o autor começa a analisar qual das raças é a mais bonita. Ele afirma que os brancos são os mais bonitos, enquanto as outras se aproximam dela, mas não a alcançam. Ele afirma também que a beleza não é artificial ou variável, mas um conceito fixo. E que quanto mais mestiço, mais feio. Além disso, as mesmas coisas são ditas a respeito de força. O autor não afirma em que se embasou para falar sobre força, e não apresenta nenhuma prova do que diz. Com relação a beleza, o autor cita artigos, mas também não apresenta definições. E, curiosamente, afirma que essas características são superiores nos franceses em relação aos alemães.
É interessante ver que o autor não foi empático nem praticou a reciprocidade, pois não enxergou o lado dos pretos, amarelos e mestiços. Ele simplesmente fez afirmações sem embasamento evidente e, ainda que tivesse um embasamento, não justificaria a ausência de um pensamento sobre o ser humano, e não apenas sobre raças, como se o indivíduo não importasse, ou mesmo um grupo não importasse frente à ciência.
No capítulo seguinte Gobineau prossegue, discutindo agora o conceito de inteligência. Primeiramente, ele alega que a inteligência também depende da raça, e que é impossível chamar de civilizados povos como os taitianos nativos, por exemplo. Entretanto, fica difícil perceber qual é o embasamento dele, sendo notável que ele só considera civilizado aquilo que se aproxima do padrão europeu, mostrando que ele não consegue ser empático com outros povos, desmerecendo-os sem enxergar sua possível sabedoria.
Então, discorre sobre a sabedoria, alegando que ela não é infinita. Alegando que:
a) o ser humano sempre irá perder sabedoria de uma sociedade para outra. Temos conhecimentos que os gregos não tinham, mas perdemos muitos de seus ensinamentos também;
b) temos uma ciência avançada que produz artefatos, mas não é capaz de nos perpetuar, pois os artefatos precisam de mãos e cabeças.
Com tudo isso, é possível concluir que Gobineau não aplicava corretamente a sua teoria na ciência. Isso porque ele não seguia o método científico da maneira adequada, não sendo possível afirmar com convicção se o que ele dizia era mesmo verdade ou não; além de não pensar nas consequências de sua ciência na vida alheia, mostrando até mesmo certa despreocupação com a vida e dignidade alheia. E, infelizmente, esse tipo de mau uso da ciência não acabou.
Texto desenvolvido a partir do texto: The inequality of human races -> https://archive.org/details/inequalityofhuma00gobi
Para explicar sua teoria Gobineau usa a religião:
“We must, of course, acknowledge that Adam is the ancestor of the white race. The scriptures are evidently meant to be so understood, for the generations deriving from him are certainly white. This being admitted, there is nothing to show that, in the view of the first compilers of the Adamite genealogies, those outside the white race were counted as part of the species at all.”
Segundo Gobineau, a qualidade das ações humanas era determinada pela raça e, por conta disto a miscigenação gera a degeneração. Após o término da escravidão no Brasil, o embranquecimento da população foi considerado por intelectuais e autoridades, entre eles, Gobineau, como a solução para diminuir a quantidade de negros da população.
Parece que a raça humana é apenas a branca, considerada pelo divino. Para justificar a separação da espécie humana em raças, Gobineau cita o exemplo das raças de cães, que só são tão diversificadas devido aos vários cruzamentos e que se esses não tivessem acontecido, as características iniciais seriam preservadas. O autor diz ainda que, considera as diferenças adquiridas com o tempo e devido às condições, acredita que estas condições aprofundaram características, porém ressalta que há ‘divergências vitais’:
“... but they do not seem to have been important enough to be able to explain fully the many vital divergences that exist.”
As diferenças e semelhanças entre os povos em áreas diferentes mostram, Segundo Gobineau, que algo ‘dentro’ da raça não se alterou, que se manteve durante vários séculos, e é por isso que alguns povos ainda mantém as mesmas características físicas dos seus ancestrais, ex: egípcios. Segundo ele, o caracter geral da raça não muda.
“The change of place would have been followed by a corresponding change of form.”
Após isso, o autor começa o capítulo 12 com uma pergunta: como poderia o homem, cuja origem comum implica em um único “ponto de partida”, foram expostos a tanta diversidade sem razão? (tradução livre) A partir daí, o autor começa sua dissertação sobre qual raça é mais bonita, ou forte, etc. Então ele começa a descrever os lugares de onde podem ter se originado a raça branca, a negra e a amarela, e também a tentar usar referências de diversas ordens para isso – científicas, cujas fontes ele não cita, e bíblicas. Além disso, comenta sobre as dificuldades geográficas encontradas, como montanhas, rios, etc. A partir disso, ele começa a descrever os dois tipos de migração: voluntária e inesperada. E diz a seguinte citação, associando-a à migração:
“The weaker man is, the more is he the sport of inorganic forces. The less experience he has, the more slavishly does he respond to accidents which he can neither foresee nor avoid.”
Gobineau associa a migrações para locais com diferentes condições geográficas as diferenças entre as raças. Raças essas que ele definiria como naturalmente divididas em apenas três: brancos, pretos e amarelos. Os brancos seriam, em geral, os europeus; os pretos, os africanos; e os amarelos, os asiáticos do parte mais oriental da Ásia. O que os diferenciou foram fatores especiais. Além disso, tanto a raça branca quanto a amarela não seriam cem por cento puras de acordo com o autor. As outras raças seriam “tipos terciários” de acordo com o autor, e ele dá exemplos. Ele afirma que os polinésios, por exemplo, são uma mistura dos pretos com os amarelos. Também afirma que quanto mais mistura de raças, mais diferenças físicas entre o povo. E também afirma que isso dificulta a identificação do indivíduo, deixando ele sem saber a que raça pertence. Além disso, também há os “tipos quartenários”, que, quando misturados a mais uma raça, o autor alega haver uma desarmonia na população, gerando uma “anarquia racial”. É possível observar que o autor, neste trecho, não apresenta nenhum embasamento teórico ou experimental, não deixando clara a metodologia utilizada; indica apenas algumas observações que são refutáveis. Depois, o autor começa a analisar qual das raças é a mais bonita. Ele afirma que os brancos são os mais bonitos, enquanto as outras se aproximam dela, mas não a alcançam. Ele afirma também que a beleza não é artificial ou variável, mas um conceito fixo. E que quanto mais mestiço, mais feio. Além disso, as mesmas coisas são ditas a respeito de força. O autor não afirma em que se embasou para falar sobre força, e não apresenta nenhuma prova do que diz. Com relação a beleza, o autor cita artigos, mas também não apresenta definições. E, curiosamente, afirma que essas características são superiores nos franceses em relação aos alemães.
É interessante ver que o autor não foi empático nem praticou a reciprocidade, pois não enxergou o lado dos pretos, amarelos e mestiços. Ele simplesmente fez afirmações sem embasamento evidente e, ainda que tivesse um embasamento, não justificaria a ausência de um pensamento sobre o ser humano, e não apenas sobre raças, como se o indivíduo não importasse, ou mesmo um grupo não importasse frente à ciência.
No capítulo seguinte Gobineau prossegue, discutindo agora o conceito de inteligência. Primeiramente, ele alega que a inteligência também depende da raça, e que é impossível chamar de civilizados povos como os taitianos nativos, por exemplo. Entretanto, fica difícil perceber qual é o embasamento dele, sendo notável que ele só considera civilizado aquilo que se aproxima do padrão europeu, mostrando que ele não consegue ser empático com outros povos, desmerecendo-os sem enxergar sua possível sabedoria.
Então, discorre sobre a sabedoria, alegando que ela não é infinita. Alegando que:
a) o ser humano sempre irá perder sabedoria de uma sociedade para outra. Temos conhecimentos que os gregos não tinham, mas perdemos muitos de seus ensinamentos também;
b) temos uma ciência avançada que produz artefatos, mas não é capaz de nos perpetuar, pois os artefatos precisam de mãos e cabeças.
Com tudo isso, é possível concluir que Gobineau não aplicava corretamente a sua teoria na ciência. Isso porque ele não seguia o método científico da maneira adequada, não sendo possível afirmar com convicção se o que ele dizia era mesmo verdade ou não; além de não pensar nas consequências de sua ciência na vida alheia, mostrando até mesmo certa despreocupação com a vida e dignidade alheia. E, infelizmente, esse tipo de mau uso da ciência não acabou.
Texto desenvolvido a partir do texto: The inequality of human races -> https://archive.org/details/inequalityofhuma00gobi
3.5 - Houston Stewart Chamberlain, século XX
Filosofo inglês, naturalizado alemão, advogava a favor da superioridade da racial e cultural da raça ariana. Em seu primeiro trabalho, Chamberlain analisou a ópera “Cavalgada das Valkirias” de Richard Wagner, onde ele analisa a bravura e heroísmo do personagem teutônico.
Posteriormente, em 1899,Chamberlain produz uma de suas obras emblemáticas, que é “Os fundamentos do século XIX” onde ele analisa de maneira ampla, mais tendenciosa, a cultura europeia, onde ele diz que os arianos eram responsáveis pelo desenvolvimento criativo da Europa, baseando-se nas ideias de Gobineau. Sua teoria foi fundamental para a o surgimento do ideário nazista de raça pura, sendo que seu trabalho foi, até mesmo, apreciado por Adolf Hitler.
Posteriormente, em 1899,Chamberlain produz uma de suas obras emblemáticas, que é “Os fundamentos do século XIX” onde ele analisa de maneira ampla, mais tendenciosa, a cultura europeia, onde ele diz que os arianos eram responsáveis pelo desenvolvimento criativo da Europa, baseando-se nas ideias de Gobineau. Sua teoria foi fundamental para a o surgimento do ideário nazista de raça pura, sendo que seu trabalho foi, até mesmo, apreciado por Adolf Hitler.